Patrícia Zimmermann D’Avila, Delegada de Polícia Civil de SC e coordenadora estadual das Delegacias de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso
O abuso sexual na
infância ainda é um assunto tratado como tabu dentro dos lares. Poucos
querem falar sobre ele, quando, na verdade, se trata de
prática bastante recorrente, muito mais comum do que uma mente sadia
consegue imaginar. Esse silêncio sobre um tema tão importante é um dos
fatores que estimulam a recorrência. Os dados existentes subestimam a
realidade e dificultam a formatação de uma estatística confiável, pois
demonstram apenas uma parcela do problema.
A ocultação do
fato dentro do ambiente familiar, seja por vergonha, medo da exposição,
receio de represálias ou dependência econômica é a regra. Aliado a isso,
o fato de que, quase sempre, o abusador faz parte da convivência da
criança ou do adolescente, seja no meio familiar ou nas relações de
vizinhança, dificulta ainda mais o encaminhamento do problema ao
conhecimento das autoridades. Nestas circunstâncias, os olhos vigilantes
dos pais na residência e a sensibilidade dos professores na escola é que
vão fazer a diferença na eficácia da proteção da criança ou do
adolescente.
A vítima em
situação de vulnerabilidade tende a ser conquistada pelo abusador
através de elogios, atenção extrema, agrados e dinheiro. E os meios
eletrônicos de comunicação têm facilitado muito essa abordagem, exigindo
dos pais o pulso firme em exercer o controle parental sobre os filhos
nas redes sociais. Como o abusador pode estar no núcleo familiar, a
escola detém
uma parcela importante de responsabilidade na identificação do problema.
Fatores
concomitantes como aparecimento de hematomas nos braços e pernas,
agressividade e redução repentina do aproveitamento escolar, baixa
estima e comportamento apático em sala de aula devem ligar o radar para
uma observação mais atenta e possível abordagem a ser realizada por
pessoa
qualificada. Reduzindo o assunto que é extenso, romper o silêncio e
tratar do abuso sexual infantil de forma clara e transparente, tanto em
casa quanto
da escola, é uma das principais barreiras a ser vencida no enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes