Patrícia Zimmermann D’Avila, Delegada de Polícia Civil de SC e coordenadora estadual das Delegacias de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso18/05/2019
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O
abuso sexual na infância ainda é um assunto tratado como tabu
dentro dos lares. Poucos querem falar sobre ele, quando, na verdade,
se trata de
prática bastante recorrente, muito mais comum do
que uma mente sadia consegue imaginar. Esse silêncio sobre um tema
tão importante é um dos fatores que estimulam a recorrência. Os
dados existentes subestimam a
realidade e dificultam a
formatação de uma estatística confiável, pois demonstram apenas
uma parcela do problema.
A
ocultação do fato dentro do ambiente familiar, seja por vergonha,
medo da exposição, receio de represálias ou dependência econômica
é a regra. Aliado a isso, o fato de que, quase sempre, o abusador
faz parte da convivência da criança ou do adolescente, seja no meio
familiar ou nas relações de vizinhança, dificulta ainda mais o
encaminhamento do problema ao conhecimento das autoridades. Nestas
circunstâncias, os olhos vigilantes
dos pais na residência e a
sensibilidade dos professores na escola é que vão fazer a diferença
na eficácia da proteção da criança ou do adolescente.
A
vítima em situação de vulnerabilidade tende a ser conquistada pelo
abusador através de elogios, atenção extrema, agrados e dinheiro.
E os meios eletrônicos de comunicação têm facilitado muito essa
abordagem, exigindo dos pais o pulso firme em exercer o controle
parental sobre os filhos nas redes sociais. Como o abusador pode
estar no núcleo familiar, a escola detém
uma parcela
importante de responsabilidade na identificação do problema.
Fatores concomitantes como aparecimento de hematomas nos braços e pernas, agressividade e redução repentina do aproveitamento escolar, baixa estima e comportamento apático em sala de aula devem ligar o radar para uma observação mais atenta e possível abordagem a ser realizada por pessoa
qualificada. Reduzindo o assunto que é extenso, romper o silêncio e tratar do abuso sexual infantil de forma clara e transparente, tanto em casa quanto
da escola, é uma das principais barreiras a ser vencida no enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes.